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É DOS BARBUDOS QUE

ELAS GOSTAM MAIS

CONHEÇA A POGONOFILIA, UMA ATRAÇÃO QUE

LEVA AS MULHERES A DESEJAREM MUITO MAIS

DO QUE BARBA, CABELO E BIGODE

Dê uma olhada ao seu redor. É sério, tire os olhos desta reportagem por um minuto e olhe para as pessoas que estão à sua volta. Se houver homens por perto, você automaticamente vai perceber que a maioria deles está usando algum tipo de barba. Sejam ralas, em formato de cavanhaque, como um simples bigode ou até mesmo cheios, os pelos faciais têm enfeitado os rostos masculinos, independentemente de estilo, classe social ou país. Enfeitado tanto que se tornou uma forma de vida, uma subcultura dentro da sociedade atual, um meio de cuidar de si. No entanto, por trás de uma moda que tem influenciado cada vez mais o visual dos rapazes, especialmente os mais jovens, há muito mais do que se pode imaginar.

 

No entanto, o que parece uma simples escolha com base na aparência revela questões profundas da autoestima masculina, da necessidade de se sentirem seguros e, claro, da vontade de serem aceitos e reconhecidos pelo sexo oposto.

“Depois que deixei a barba crescer, as mulheres se sentiram mais atraídas por mim. Algumas, inclusive, já me abordaram tendo isso como assunto”, conta o professor de judô Marcellus Moraes, barbudo há dois anos. Mas o que o rapaz de 25 anos pensa não é apenas uma constatação da própria vivência. Um estudo sobre os hábitos de cuidado pessoal masculino, encomendado pela empresa Philips, em 2016, revelou que 71% das mulheres têm como preferência a barba rala de três dias e, seja coincidência ou não, 43,7% dos homens adotaram o estilo.

Sim, estilo. Afinal, qualquer um que esteja disposto a pagar o preço pode comprar uma camisa de marca que esteja em alta, o celular do momento ou ostentar o necessário para atrair a atenção. Mas se o objetivo é conseguir um visual arrojado de lenhador urbano e o homem não é fisicamente capaz de ter pelos no rosto, a ideia de ornar este adereço e acompanhar a tendência pode ir por água abaixo.


 

 

estrelaram a primeira parte com o rosto liso – e os likes por toda internet, sejam de homens ou mulheres, se dedicam às fotos de quem ilustra um visual “na régua”, termo que significa o design perfeito. Mais uma tendência mundial.

E já que é para falar de um modismo que começou em outro continente, a prova viva disso é o italiano Shady Giorgio. Aos 20 anos, o estudante de Relações Internacionais e Ciências Políticas, da Universita degli Studi di Napoli L'Orientale, começou a utilizar o adereço assim que ele surgiu em seu rosto na adolescência e, desde então, percebeu uma mudança na maneira como é visto. "As mulheres têm me levado mais a sério e me consideram, de fato, um adulto. O curioso é que quando eu era mais novo, ter barba não era importante. Nem para mim e nem para as garotas da minha idade".

A explicação para essa atração repentina, no entanto, pode ser bem simples. Para Raquel Câmara, sexóloga e autora do livro "Sexo às Claras, o que o homem não deve fazer para não falhar", o fato de a barba representar força, masculinidade e até mesmo um certo mistério pode ser um indicador do que as mulheres têm procurado.

Quem vivencia isso é a estudante de jornalismo Mariane Martins, de 19 anos. “Quando o homem tem barba, se torna misterioso e me faz ter vontade de conhecê-lo mais. Desperta a minha curiosidade”. A auxiliar de clínica hospitalar, Laryssa Honorato, também de 19 anos, concorda. Fã de vários estilos de barba e principalmente das maiores, ela acredita que essa força masculina possa se expandir para a proteção que tanto almeja encontrar nos rapazes. “Me passa a imagem de que ele será capaz de me defender de tudo, de que é um homem com H maiúsculo. Por isso, acaba se tornando atraente”.

No entanto, o diferencial da barba não está somente em parecer adulto, mais maduro ou protetor. Historicamente, o adorno no rosto transmitiu, de geração em geração, a ideia de que poderia passar mais confiança, estabilidade, status, respeito e até poder para quem o utilizasse. De acordo com a sexóloga Raquel, isso acontece desde a época dos homens das cavernas e tem contribuído na construção do imaginário de que os rapazes são fortes e másculos. Uma idealização que é mantida até hoje, inclusive por eles.

Quem pensa assim é o designer gráfico Andrew Santos, de 22 anos. Para ele, a barba impõe respeito. “Parece que o homem fica mais sério. Me sinto mais estimado, pronto para enfrentar tudo o que vier”. E o jovem não está sozinho ao reafirmar a teoria da sexóloga. O italiano Shady acredita que o adereço expressa sua masculinidade, além de ser um sinal de que ele é capaz de fazer o que desejar. Em sua visão, os pelos faciais se tornaram um estimulo e um incentivo. “Agora me respeito. Eu me senti um homem de verdade desde que minha barba cresceu e percebi que as mulheres corresponderam a isso ao se mostrarem interessadas”.

Que o interesse delas está atrelado à crença da virilidade masculina, isso é inegável. A fantasia feminina, inconscientemente, é atraída, muitas vezes, pelos homens mais bravos, que estão prontos para lutar e destruir o que for, que são fortes e aparentam ser verdadeiros “machos alfa”. A barba traz todos estes sentimentos à tona e, mais do que isso, reflete a sexualidade à flor da pele, um desejo que as pogonofílicas conhecem muito bem.

“Os pelos no rosto dão um ar sensual, são atraentes e me mostram que esses homens têm pegada e um ar audacioso. Isso mexe com a cabeça da mulherada”, confessa a auxiliar, que tem a atração desde quando era muito nova. Quem também não consegue se conter diante da tentação é a estudante Mariane. “Não consigo parar de olhar, é automático. Mas também... Tem quem resista àquele cavanhaque feitinho? Parece uma obra de arte”, menciona entre risos. Por outro lado, Andrew acha graça e se diverte com a situação: “Elas gostam de passar a mão e de fazer carinho na minha barba. Já que me deixa com uma aparência melhor, aderi”.

No entanto, não é só de carinhos que os homens barbudos sobrevivem. Uma pesquisa realizada em 2014 pelo site americano Match.com afirma que 80% dos homens com barba possuem orgasmos com frequência e quando o assunto é sexo casual, 61% deles se dão bem. De acordo com o barbeiro Marcelo Silva, da Barbearia & Etc, os números não mentem. Lidando com os clientes dia após dia, ele afirma que “muitas esposas adoram a barba porque dão uma apimentada durante o sexo oral”. O fetiche, é claro, tem explicação.

“Pela psicologia, ter fetiche é projetar para um objeto inanimado, ou parte do corpo, qualidades eróticas. Todo e qualquer objeto pode ser um atrativo, mas no caso da Pogonofilia é a barba que tem esse papel”, enfatiza a sexóloga. O fato é que, seja ou não com o intuito de despertar um lado mais lascivo, muitos homens optaram por deixar os pelos faciais crescerem.

Marcellus Moraes, citado no início da reportagem, assume que só começou a usar a barba depois de uma crise de depressão, durante a qual não tinha vontade de fazer nada, nem mesmo afeitar os pelos do rosto. Mas, quem diria, o que começou como desânimo se transformou em um renascimento e em uma oportunidade para crescer. “Quando olho no espelho, gosto do que vejo. A barba me deu mais confiança desde então”.

Mas ele não é o único a experimentar uma relação tão íntima com o acessório. Depois de tanto tempo juntos, homem e barba se tornam um só, tanto que, além de ser uma verdadeira injeção de autoestima, ela também é capaz de atormentar os adeptos. “Descobri que sou uma pessoa diferente quando a estou usando e outra mais diferente ainda quando estou sem ela”, explica o italiano Shady. “Quando tiro, parece que sou um garotinho. Todo homem quando raspa se sente assim e a verdade é que as pessoas não nos levam a sério quando estamos dessa forma”.

Quem, de alguma maneira, reafirma os temores dele é a advogada Laura Cruz, de 35 anos. “A barba dá um diferencial na aparência masculina. Sem ela, o homem parece um menino, fica mais jovial. Muda de identidade”. O problema é justamente quando apenas a identidade com barba tem valor. A mulher pogonofílica acredita que o homem barbudo é sempre o ideal para ela, ignorando outras qualidades e considerando, muitas vezes, apenas o fato de ter uma barba.

Isso, somado à preocupação masculina, reflete em uma questão ainda maior: a autoestima. “Da mesma forma que a mulher pode se sentir mais sensual com algum tipo de vestido, o homem pode ser sentir mais forte e desejado por estar barbado”, explica Raquel. O medo de perder esse apelo, no entanto, é tão grande que todos os entrevistados negaram veementemente a ideia de tirar a barba por escolha própria. Andrew afirma que só removeria se recebesse muito dinheiro, Shady diz, de maneira categórica que “uma vez que você começa a usar, não dá para tirar”. Já Marcellus resumiu bem o sentimento de todos: “Agora não me vejo sem ela, se tornou parte de mim”.

Ainda assim, essa estranheza e até mesmo o receio que a ausência da barba podem acarretar tem um cunho inconsciente, que revela áreas quase imperceptíveis da psiquê do chamado sexo forte. “Alguns homens a utilizam para se sentir mais protegidos, escondendo parte de suas feições como um escudo. Perder esse escudo pode gerar insegurança”, analisa a psicóloga especializada em sexologia.

Mas para aqueles que temem como será a vida sem a barba ou sofrem por não conseguir ostentar uma, o italiano Shady dá o recado: “As mulheres vão te achar bonito por quem você é como um todo, por todas as suas características e pela sua personalidade. Não vai fazer diferença se você usa barba ou não. Você deve usá-la apenas por você mesmo”. Quem concorda com cada palavra é Raquel. “O ideal seria que os homens se sentissem fortes e sensuais sem precisar de qualquer escudo. A barba deveria ser apenas um complemento. No entanto, muitas insatisfações pessoais são mascaradas com roupas, barbas ou qualquer outro adereço”, lamenta.

A pogonofilia, um fetiche bem peculiar por barbas, que leva as mulheres a se sentirem atraídas pelos homens que utilizam o adereço, está estimulando ainda mais o uso do acessório e, consequentemente, atingindo diferentes áreas do comportamento humano. 

Mas se você pensa que essa moda começou no Brasil em 2014, está muito enganado. A adoração aos pelos faciais se tornou uma tendência na Europa e foi se estendendo aos outros países tal qual praga pelo Egito. Hoje, as redes sociais estão repletas de fotos de homens que posam e assumem suas barbas, os filmes ganharam galãs barbudos – especialmente os que possuem continuação e 

A TENDÊNCIA DAS BARBEARIAS GOURMET

Com o aumento dos homens que tem cuidado da aparência e, principalmente, conservado cortes de cabelo estilosos e uma barba bem desenhada, outro fenômeno têm se espalhado por todo o país: as barbearias gourmet. De acordo com uma pesquisa realizada pela empresa Euromonitor Internacional, apenas em 2015 houve um crescimento de 7,1% do mercado de beleza masculino, o que pode elevar o Brasil ao topo do ranking mundial até 2019.

Além disso, a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC) divulgou no mesmo ano um estudo que aponta que 54% dos homens já estão frequentando regularmente as barbearias. Afinal, o ambiente às avessas aos salões femininos, com direito à revista masculina e bebidas alcóolicas, se tornou um lugar cativo para os rapazes valorizarem a si mesmos e, claro, manterem o bom e velho papo de homem em dia.

“Muitos não gostavam de frequentar os salões de beleza por causa do cheiro de alguns produtos e das fofocas que acontecem por lá. Já na barbearia, eles se sentem mais à vontade para conversar com os amigos e até tomar um drink”, revela o barbeiro Marcelo Silva, da Barbearia & Etc, na Barra da Tijuca.

Algumas esposas e namoradas, no entanto, não ficam muito satisfeitas com a quantidade de tempo que os companheiros têm passado quando vão fazer a barba, mas não adianta reclamar. A vaidade tem sido cada vez um hábito mais comum no mundo masculino.

“Ultimamente os homens têm se cuidado mais. Com a moda da barba, eles aderiram aos tratamentos e se sentiram mais elegantes”, explica. Mas a ideia europeia que se expandiu para o Brasil pode ter gerado complicações para quem investe em um outro mercado: o das lâminas de barbear. Em 2014, a Procter & Gamble, dona da Gillette, tornou público que, pelo fato de os homens não estarem mantendo o rosto liso, as vendas globais caíram cerca de 1,5% por mês para os adeptos da cera e 3,6% para os que usavam o barbeador. Ao que parece, a moda tem saído caro para o bolso dos empresários.

Mas na visão da sexóloga Raquel Câmara, a tendência pode declinar. Afinal, tudo não passa de querer se sentir bem e admirado e, quando é dessa forma, as pessoas podem seguir qualquer tendência que esteja em alta. “Modismos são assim mesmo. Por exemplo, se uma ou mais pessoas elogiarem um perfume, quem está usando vai procurar usá-lo sempre. O mesmo acontece com a barba”, analisa. Para saber se a vez dos barbados permanecerá, só os próximos anos dirão. 

CUIDADOS COM A BARBA

 

 

 

Usar a barba é uma expressão de cada um. Por mais que você olhe e pense que todas são iguais, cada homem tem uma maneira diferente de se expressar por meio dela. Por isso, saiba como os entrevistados cuidam do adereço que tanto têm orgulho.

"Eu depilo abaixo do meu queixo para dar um ar mais aparado, corto as partes que estão maiores para deixar uniforme e acerto o bigode para não incomodar nos lábios. Mas não uso cremes nem nada do gênero"

Shady Giorgio

"Sempre aparo e moldo. Além disso,

também lavo com shampoo e passo creme"

                              Andrew Santos

"Mantenho sempre limpa com shampoo e quando está muito grande, aparo na máquina. O diferencial é que uso um pente para mantê-la sempre alinhada"

Marcellus Moraes

Mas se você quer saber o que o barbeiro profissional indica, Marcelo Silva dá as melhores dicas para mantê-la sempre bonita:

“O ideal é que a barba seja lavada todos os dias e até mesmo perfumada. Quem gosta de mantê-la longa pode usar um óleo específico para amaciar os fios. Já quem prefere um estilo mais curto não pode se esquecer de passar semanalmente na barbearia para aparar os fios rebeldes. O ideal é que essas visitas sejam ao menos de 7 a 15 dias para manter o desenho”, explica.

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